Orixás e Umbanda – O que tem no meio ?

TronosResumo

Falar de religião é algo muito pessoal e requer muito cuidado, pois devemos não julgar a religião do próximo, não podemos criticar. Também não é aconselhável fazer com que as pessoas comunguem de nossas realidades, ou seja, não se faz necessário convencer o outro de que a nossa religião é a correta. Tenhamos em mente que toda religião possui um traço de uma anterior e isso é uma ponte importante entre o respeito mútuo e a valorização da religiosidade seja qual for a sua forma prática e ritualística. Cada cultura possui sua característica religiosa e certamente Deus permite a cada um praticar suas crenças. Se não fosse assim, não teríamos uma gama tão variada de religiões pelo mundo afora. Em cada pedaço dessa terra há uma forma de se conectar ao Plano divino e este certamente é o ponto principal, estar em comunhão com Deus a fim de evoluir moralmente através dos ensinamentos pregados em todas as religiões que visam beneficiar os que acreditam no sagrado.

Com isso, damos início à explicação de forma simples na crença Umbandista, religião que cultua os Orixás como divindades.

Orixá é uma palavra que vem do Iorubá (Grupo de milhões de africanos interligados por uma mesma linguística de mesmo nome, cultura e valores)

A palavra Òrìsà que se aplica ao ser sobre-humano é segundo a Mitologia Iorubá, é o estado alcançado por seus ancestrais, ou seja, atingindo um grau de divindade.

Assim como muitos outros povos, o país África também possui seus mitos e seus Deuses. Conta à história que o culto aos Orixás, ou seja, as divindades para este povo teve início na Nigéria, Togo e Daomé. Cada região, ou agrupamento de pessoas com mesma crença possui suas lendas e mitos, portanto entendemos que existem cultos em cada nação.

É válido ressaltar que não temos a pretensão de aprofundar a história mitológica da África, apenas conhecer que ela existe assim como as mitologias grega, hindu, cristã, nórdica, tupi-guarani etc com seus Deuses, lendas e mitos.

Dentro da mitologia Africana são muitas as divindades, e nem sempre são tratadas por Orixás. Por exemplo, a Nação de Angola (Negros bantos) nomeia seus Deuses de Inkices, já na nação Jeje (Negros Fons), as divindades são tratadas pela nomeação Voduns.

Na religião de Umbanda, a fundamentação dos Orixás consiste em potencialidades de Deus que regem o grande poder dos elementos da natureza. Indícios históricos indicam o culto aos Orixás como um dos mais antigos da história humana.

 Mas a Umbanda não nasceu em 1908 no Rio de Janeiro, anunciada pelo espírito do caboclo das Sete Encruzilhadas, por intermédio de Zélio Fernandino de Moraes? A religião de Umbanda pode, respeitamos e aceitamos que assim tenha sido anunciada neste tempo como a religião da prática do bem, extirpando qualquer sentimento contrário a caridade, mas não podemos negar tudo o que ocorrera antes de Novembro de 1908.

É possível negar a existência de Abraão, o Pai da multidão em hebraico, e sua significativa importância para as religiões que creem em um Deus único? É um fato bíblico, está na história e nós seres humanos somos parte destes fatos. Assim como não negamos o dilúvio de Noé, nem o primeiro templo criado por Rei Salomão.

Também não negamos a passagem (João 8:58) – Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou. 

Seria audacioso interpretar esta passagem com uma visão Umbandista?

Antes da existência de quem quer que tenha sido eu sou uma qualidade de Deus, eu sou um enviado, eu sou a fé e a verdade.

Não podemos negar que antes do tráfico de escravos chegar até o Brasil por meio da Diáspora africana, o costume de escravizar já era comum desde os primórdios. Tínhamos escravos entre diversos povos como Incas, Maias, chineses, hebreus etc.

Essa é uma observação para desatarmos o nó da ideia de que somente o negro africano foi escravizado.

Voltando a nossa linha de raciocínio, e ao nosso interesse, o Brasil recebeu diversos Africanos para fins escravagistas que todos nós conhecemos através das histórias mais variadas contadas por nossos professores na escola/faculdade.

A mão-de-obra barata havia sido encontrada já em terras Brasileiras, os indígenas também foram feito escravos, porém o Índio além de conhecer estas terras como nenhum Portugues, o que era de suma importância para os “conquistadores”, também não representava tanta força braçal, sendo assim a Igreja católica proibiu escravizar o povo que já habitava nossas terras. Então, no século XV os colonizadores retornaram ao País África para compra de escravos. E assim, pelo escambo, trocados por aguardente, armas e demais mercadorias, chegavam nos navios negreiros, milhões de escravos de diversas nações, introduzidos juntos no Brasil. Cada nação possuía sua religiosidade, sua forma de adorar seus Deuses, por uns chamados Inkices, por outros chamados Voduns, alguns outros chamando de Orixás e também por outros nomes que talvez não tenhamos conhecimento.

Sabemos que os cultos oriundos de África eram proibidos em nosso País devido à forte influência da Igreja que introduziu o Catolicismo como a religião a seguir neste novo mundo. Com isso catequizou os Índios e posteriormente tentou fazer o mesmo com os escravos africanos.

Entendemos o sincretismo religioso como uma atitude humilde deste povo visto que aceitaram cultuar os Santos Católicos conforme obrigatoriedade imposta pela Igreja, contudo este povo africano continuou adorando suas divindades agora associadas às divindades Católicas. Entendemos na linha de Umbanda a associação das qualidades divinas e Santos conforme ensinamentos deixados por Rubens Saraceni, na seguinte estrutura:

 Oxalá — Jesus Cristo, Trono masculino da Fé;

 Oyá-Tempo — Santa Clara, Trono Feminino da Fé;

Oxumaré — São Bartolomeu, Trono masculino do amor;

Oxum — Nossa Senhora da Concepção, Trono feminino do amor;

Oxóssi — São Sebastião, Trono Masculino do Conhecimento;

Obá — Sta. Joana D’Arc, Trono Feminino do Conhecimento;

Xangô — Moisés / São Jerônimo, Trono Masculino da Justiça;

Iansã — Santa Bárbara, Trono Feminino da Justiça;

Ogum — São Jorge, Trono Masculino da Lei;

Egunitá — Santa Sara Kali / Santa Brígida, Trono Feminino da Lei;

Obaluayê — São Lázaro, Trono Masculino da Evolução;

Nana Boroquê — Santa Ana, Trono Feminino da Evolução;

Omulu — São Roque, Trono Masculino da Geração;

Iemanjá — Nossa Senhora dos Navegantes, Trono Feminino da Geração.

No livro Dicionário da Escravidão Negra de Clóvis Moura (Pg. 210) temos um exemplo clássico de como antes do ano 1908 já havia feiticeiros, curandeiros, preparação de patuás assim como o mau uso do feitiço, utilizado por uma escrava para prática negativa contra sua Senhora.

CLóvis Mauro Pg 2010

Há um longo caminho entre culto as divindades, sua mistura e sincretismo com outras religiões até o anúncio de nossa religião, e assim como a Umbanda, religião linda e Brasileira, outras religiões nasceram desses encontros de nações que retiradas à força de seu País, clamaram a seus Deuses, em uma só fé, em uma só voz.

Saravá Umbanda!